O futuro dos escritórios de contabilidade

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Necessidade de investimentos em tecnologia e treinamento, diante de maior complexidade de regras, e pressão por menores custos levam empresários a repensar modelo de negócios

Ao buscar um profissional para integrar seus quadros, a Berti Contadores Associados recebeu três ex-proprietários de pequenos escritórios de contabilidade que desistiram de atuar por conta própria.
A situação reflete as dificuldades enfrentadas pelos pequenos empresários, diante da maior necessidade de conhecimento técnico e de gestão e investimentos em tecnologia, avalia o sócio da Berti e presidente da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis (Fenacon), Mario Berti.

O cenário atual leva muitas empresas a buscar associações, parcerias, ou mesmo novos modelos de negócios. “Há associações para aproveitar a expertise de cada empresa e juntas atravessar essa turbulência de mercado”, afirma o presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis do Estado de São Paulo (Sescon-SP), Márcio Shimomoto.

As parcerias existem há algum tempo, as fusões estão acontecendo e as redes aumentam o número de filiados, confirma  o vice-presidente técnico do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Zulmir Breda. “É um movimento importante que permite colaboração mútua, indicação de clientes e troca de informações técnicas.”

Para o presidente da BDO no Brasil, Raul Corrêa da Silva, as mudanças não envolvem apenas pequenas empresas. Segundo ele, a tendência é grandes escritórios crescerem com a prestação de serviços, como folha de pagamento. Neste contexto, a BDO incorporou em 2015 as operações da Baker Tilly Brasil e está atenta a novas oportunidades de aquisição e associação.

Tendências

Globalização, profissionalização, integração de canais de comunicação, segmentação e trabalho em rede. Estas são, segundo o sócio e presidente do Conselho de Administração da NTW Franquia Contábil, Roberto Dias Duarte, as grandes tendências para a área de contabilidade.

No mercado desde 1989, Duarte diz que a empresa se espelhou no modelo americano para definir sua entrada no sistema de franquias. Segundo Duarte, há 14 grandes redes de franquia de serviços contábeis, tributário, financeiros e de processamento de folha de pagamento nos Estados Unidos e ele destaca que algumas já estão atuando no País.

A profissionalização é outro ponto importante.  “Não basta mais ser um bom técnico. Tem que criar uma estrutura de gestão, pensando em estratégias, atuação em nichos, marketing e atendimento a cliente, como em qualquer outra empresa”, afirma Duarte. Na comunicação com o cliente, o empresário avalia que o desafio é atuar em vários canais integrados de comunicação.

A segmentação, ressalta, traz escala e reduz custos, torna o profissional um especialista e garante diferencial. “O escritório pode atender vários segmentos, mas as unidades internas têm que ser construídas de forma segmentada para reduzir custos”, opina. “No exterior, você encontra um serviço de Imposto de Renda on-line que custa U$ 15 ou um atendimento pessoal diferenciado por US$ 200”, afirma Duarte.

O contador Vicente Sevilha Junior, da Sevilha Contabilidade, destaca dois fatores que contribuem para a mudança do cenário na área. Primeiro, a nova geração de empresários, preocupada com a qualidade das informações para dirigir o negócio. Segundo, as exigências do governo também por informação de qualidade. “Embora o governo e as empresas queiram mais informações, o mercado demanda preços mais baixos”, afirma. “Por um momento, o mercado achou que poderia cobrar mais caro e contratar mais gente”, acrescenta.

Para resolver o problema de maiores custos e pressão por menores preços, a Sevilha, criada em 1987, lançou-se no sistema de franquias no ano passado e hoje conta com 11 unidades. “A atuação em rede permite melhor aproveitamento de oportunidades e a redução de custos”, confirma Duarte, da NTW.

Novo fazer

“O cerco está se fechando, a legislação com cada vez mais exigências e quem é sozinho não está conseguindo acompanhar”, afirma o contador Adriano Aparecido Souza da Silva, que, depois de 14 anos como funcionário e como autônomo, decidiu aderir à franquia no ano passado. Hoje ele é diretor executivo da NTW São Paulo, que tem 36 unidades.  Silva conta que o mercado passou a exigir inovações e ele não queria competir por preço.

De acordo com o contador, foi necessário mudar totalmente a maneira de trabalho, desde o padrão até a estrutura física.  “A franquia orienta como chegar ao cliente, que tipo de atendimento oferecer e como fazer a proposta de negócios. Com isso, melhorei a qualidade do serviço e vieram as indicações”, afirma Silva.

Diversificação

Assim como grandes empresas, alguns escritórios de menor porte investem na diversificação. O Grupo Oberle, por exemplo, buscou um novo sócio há dois anos, com experiência em gestão, e oferece serviços como o de formação de preços e marketing, conta o diretor da empresa Fernando Oberle.

A empresa está integrando seus sistemas de informação com os dos clientes, para facilitar a obtenção de dados, reduzir a necessidade de digitação e dar a agilidade necessária ao trabalho.  Além disso, realiza uma série de parcerias oferecendo serviços de auditoria, perícia contábil e certificação digital. Movimento que está mudando a composição da receita da Oberle.

 “Hoje, menos de 90% da receita vem da contabilidade”, afirma Oberle. Dentro de casa também foram feitas mudanças. As áreas contábil, fiscal e departamento de pessoal ganharam reforço e outras atividades foram terceirizadas. Para a tecnologia, por exemplo, foi realizada uma parceria com um dos clientes.

Agora a empresa avalia o lançamento de um serviço on-line para clientes cuja demanda é menor – empresa sem funcionário e que emite  uma nota por mês. O empresário avalia que 40% dos clientes poderão ser atendidos por esse meio. Oberle justifica: “Antes cobrava até meio salário mínimo e agora não dá mais.”

por Rita Karam

Fonte: DCI

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